Você já se questionou como o “respeito” se tornou uma noção superficial em discussões sobre religião? Este tema vai muito além da mera coexistência, onde um crente não interfere no culto do outro. O verdadeiro respeito transcende a simples manutenção de distâncias a fim de evitar conflitos; trata-se de compreensão, diálogo e convivência harmoniosa. Afinal, o respeito resumido ao “respeito, desde que eles lá e eu aqui” não promove a construção de pontes, mas sim o fortalecimento de barreiras.
Precisamos refletir sobre como a palavra “respeito” é utilizada levianamente, frequentemente para encobrir a segregação real existente entre diferentes crenças. O respeito implica reconhecer as outras crenças, mesmo quando estas são opostas entre si. Contudo, o verdadeiro respeito não se limita à tolerância, que se refere apenas ao reconhecimento do direito do outro à existência. Este conceito vai além.
Segundo o dicionário, o significado de respeito abrange a empatia, que pode ser definida como “a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender da forma como ela apreende, etc.”, isto é, na verdade, um exercício de convivência muito fácil de compreender, mas difícil de praticar: admitir que eu esteja errado e o outro esteja certo.
Uma das manifestações mais notáveis de segregação se encontra na criação de bairros religiosos. Em várias regiões do Brasil, diferentes religiões estão limitadas a áreas específicas. Por exemplo, uma cidade pode ser associada a uma crença, e se você pertence a outra denominação, é aconselhável evitar a compra de uma casa naquela localidade. A interação cotidiana entre pessoas de diferentes crenças demonstra que não existe uma coexistência ou respeito harmonioso, mas apenas limites territoriais. Não há intercâmbio. Nem aceitação. Essa falta, tanto afetiva quanto efetiva, de convivência se reflete na política.
O Brasil, sendo um país laico, deveria promover a convivência de todas as religiões. Entretanto, a prática revela um cenário peculiar. Algumas religiões estão buscando impor suas vontades, por formarem grupos que ganharam força no Congresso, enquanto outros grupos de diferentes denominações permanecem alheios.
A verdadeira convivência implica dialogar e buscar entender as crenças alheias. Existem aqueles que são marginalizados, discriminados e vilipendiados na visão do público. Portanto, a reflexão sobre a religião e a falácia do conceito de respeito “leviano” é imperativa. O respeito só será efetivo quando reconhecermos que os outros têm o direito de estar certos em suas próprias perspectivas.
Entendo respeito como uma aceitação em seu nível mais profundo, que consiste principalmente em abolir adjetivos que qualificam ou desqualificam indivíduos — que frequentemente emerge em nosso discurso. Outro aspecto a ser considerado, em uma tarefa monumental, é a aceitação das dominações em geral, sim, os dinossauros existiram; testemunhamos fósseis em museus; e sim, o remédio tomado para a dor de cabeça é o que propiciou sua cura, resultado de anos de estudos realizados por cientistas.
É de extrema relevância que as pessoas reconheçam que não nascem com uma crença ou como ateias; elas nascem como seres humanos. Inicialmente, não viemos ao mundo vinculados a uma religião ou a um partido político específico. Portanto, é fundamental ver as pessoas como seres humanos, independentemente da religião ou crença que elas possam praticar, que não deveria ter relevância nas relações entre indivíduos e grupos.
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