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Alexandre Lombardi dos Santos

Psicologia das Multidoes

Atualizado: 3 de dez.

Um desenho ou imagem com as maos levantadas
a multidao tem consciencia coletiva, segundo Le Bon

A obra "Psicologia das Multidões", escrita por Gustave Le Bon, é uma das principais referências quando se trata de analisar o comportamento coletivo e suas implicações na sociedade. Através de uma lente crítica, é possível correlacionar as ideias apresentadas por Le Bon com a ideologia capitalista e a alienação que este sistema econômico promove na vida dos indivíduos.


O capitalismo, como sistema econômico dominante, está intrinsecamente ligado à lógica do mercado, onde o lucro se sobrepõe frequentemente às necessidades humanas. Dentro deste sistema, a alienação aparece como um fenômeno central, onde o indivíduo se vê dissociado do produto do seu trabalho, de si mesmo e dos outros.


`          Karl Marx já abordava a alienação como uma consequência direta do capitalismo, onde o trabalhador perde o controle sobre o processo e o produto do seu trabalho, tornando-se uma mera engrenagem na máquina econômica (MARX, 2013).


Le Bon, por sua vez, em "Psicologia das Multidões", descreve como os indivíduos, quando imersos em uma multidão, tendem a perder sua individualidade, seguindo um comportamento coletivo que muitas vezes é irracional. Ele afirma que "o indivíduo em uma multidão é um grão de areia entre outros grãos de areia, que o vento revolve à vontade".


Esta perda da individualidade na multidão pode ser comparada ao processo de alienação no capitalismo, onde o ser humano se vê perdido em um mar de produção e consumo, desprovido de um senso de propósito e controle (LE BON, 2008).

 

A ideologia capitalista, que promove o consumo desenfreado e a competição incessante, contribui para este estado de alienação. A propaganda, ferramenta essencial do capitalismo, incute nos indivíduos a necessidade constante de adquirir produtos e serviços para alcançar um ideal de felicidade e sucesso, que é perpetuamente inatingível.

Le Bon menciona a "contagion mental" na multidão, onde ideias e sentimentos são transmitidos de um indivíduo para outro com facilidade, criando um ambiente onde o pensamento crítico e a individualidade são suprimidos (LE BON, 2008).


Da mesma forma, a propaganda capitalista funciona como uma "contagion", manipulando desejos e comportamentos para sustentar o ciclo incessante de consumo. Essa dinâmica da multidão, segundo Le Bon, onde o indivíduo se perde em prol de um comportamento coletivo irracional, pode ser vista nos fenômenos de consumo em massa, como as "Black Fridays" e outras campanhas de marketing.


  Nessas situações, a racionalidade individual é sobreposta pela pressão social e pelo desejo de pertencimento, culminando em atos de consumo muitas vezes irracionais e compulsivos. Dessa forma, o comportamento das multidões descrito por Le Bon ilustra como a ideologia capitalista consegue transformar indivíduos racionais em consumidores alienados.


Além disso, a alienação promovida pelo capitalismo não se restringe apenas ao consumo, mas também se estende ao âmbito do trabalho. No contexto das relações de trabalho capitalistas, a produção em massa e a especialização excessiva das funções laborais contribuem para a perda do significado do trabalho para o indivíduo. Este passa a realizar tarefas repetitivas e fragmentadas, sem compreender o todo do processo produtivo. Segundo Le Bon, na multidão, "a personalidade consciente desaparece, os sentimentos e as ideias de todas as unidades são orientados na mesma direção" (LE BON, 2008).


No contexto do trabalho alienado, essa uniformidade é representada pla padronização dos processos e pela imposição de objetivos empresariais que desconsideram as aspirações pessoais dos trabalhadores.


O conceito de alienação também pode ser expandido para compreender a alienação cultural e social promovida pela ideologia capitalista. A cultura de massa, impregnada pela lógica do mercado, homogeniza padrões de comportamento, valores e aspirações, marginalizando culturas locais e individuais. A máquina capitalista transforma todos os aspectos da vida humana em mercadoria, desde a arte até as relações interpessoais.


Em última análise, a obra "Psicologia das Multidões" serve como uma metáfora poderosa para entender os mecanismos de alienação do capitalismo. Os indivíduos, transformados em consumidores e trabalhadores alienados, perdem a capacidade de reflexividade crítica e se tornam sujeitos passivos diante das imposições do mercado.


A alienação no capitalismo, assim como a psicologia das multidões de Le Bon, resulta em uma massa de indivíduos que, apesar de sua aparente diversidade, compartilham uma uniformidade imposta pelas estruturas sociais e econômicas.


A análise comparativa entre "Psicologia das Multidões" e os conceitos de alienação no capitalismo nos ajuda a compreender os perigos de um sistema que desumaniza e individualiza. A luta contra essa alienação implica não apenas uma crítica ao sistema econômico, mas também a busca por formas de organização social que promovam a verdadeira liberdade e individualidade.


Referências:

LE BON, Gustave. A psicologia das multidões. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2013.

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