O desejo de enriquecer rapidamente e sem esforço é um tópico extremamente irresistível que atrai milhares de pessoas. Quem não gostaria de acreditar que basta ter uma ótima ideia e executá-la para se tornar um milionário!
A lei que permitiu aqui terceirização no Brasil foi a Lei núm. 13.429 de 31 de janeiro de 2017, que ficou conhecida como Lei da Terceirização. Na verdade, essa lei modificou a redação de vários dispositivos da Lei núm. 6.019, que originalmente tratava do trabalho temporário. O que aconteceu é que muitos homens e mulheres que eram empregados da CLT, um regime que lhes garantia fundo de garantia, INSS pago pelo empregador, férias, entre outros benefícios, foram demitidos e recontratados por outras empresas.
Foi aí que surgiu o mito do “empresário de si”. Todo esse discurso baseado na ideologia criada pela classe dominante, juntamente com a “técnica da terra arrasada”, realmente conseguiu destruir o conceito de “classe trabalhadora”. Com isso toda a estrutura da CLT foi sendo derrubada, desencorajando, desinformando e manipulando os próprios trabalhadores com notícias favoráveis à terceirização. O que os empresários queriam era conseguir terceirizar tudo o que eles pudessem para não ter que pagar encargos e garantias trabalhistas em casos de doença ou demissão.
E o discurso do “sou dono do meu próprio negócio”, “sou empresário”, etc. passou a ficar bonito. O empresariado brindou aos olhos da classe trabalhadora, pois seus custos diminuíram, os riscos também porque não tinha mais nenhuma obrigação trabalhista, e, “sem lei” para proteger esses terceirizados, podia aumentar a carga de trabalho o quanto quisesse. É a “Uberização do trabalho”.
Para expressar de alguma maneira o que foi dito segue um relato. Foram contratados por uma empresa, 9 pessoas para o cargo de segurança. 3 para cada andar. A questão era que a mesma pessoa não poderia ficar no mesmo andar mais de uma semana, ou seja, os mesmos 3 trabalhadores não podiam ficar por mais de uma semana em um andar. A troca semanal garantiria que não ficassem juntos o suficiente para criar formas de revolta ou terem tempo de combinarem entre si qualquer tipo de reivindicação.
Outro exemplo onde as pessoas são manipuladas e não se dão conta disso é uma empresa, onde eles conseguiram juntar todos os funcionários uma vez por ano em uma sala em conjunto com todos os gerentes e diretores. Podiam perguntar o que quisessem, fazia parte do novo processo de integração instituído pela área de Recursos Humanos. Então, um funcionário novo da produção levanta a mão e pergunta: “Queria muito usar barba. Mas reparei que ninguém aqui usa posso usar ou não?”. O gerente lhe responde: “Você já viu no tempo em que está aqui algum funcionário, gerente ou diretor com barba”?
A resposta aqui, ficou bem clara, não era uma resposta, fez com que o funcionário entendesse que não podia usar barba. Isso, mesmo ante desrespeito a direitos trabalhistas vigentes, mas não se questionava tal norma porque ela NÃO EXISTIA, e encontrava-se despercebido pelos trabalhadores. Já se perguntou como você pode ser manipulado e não percebe? Existem inúmeras “técnicas”.
Será importante se perguntar: por que as coisas são do jeito que são? Por que faço como faço? Por que a coisa é assim e não assado? Quando começamos a nos questionar, surgirá um certo desconforto com as possíveis respostas.
Aí estará o início da saída de um processo alienante, onde se torna claro que existe um jogo e quem joga esse jogo são somente algumas pessoas e tudo isso é uma parte de um todo, de algo maior.
Nesse instante também se percebe que você não é realmente livre e que parte daquela burocracia existe e aparentemente faz todo o sentido, mas ela existe muito mais por motivos não vistos e invisíveis ainda, do que necessária.
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